O dia 8 de março é celebrado em todo o mundo para reconhecer as conquistas sociais, políticas e culturais das mulheres. Em homenagem a este dia tão importante, o Sindaftema entrevistou as auditoras fiscais Irene Costa e Kércia Brandão para falarem um pouco mais sobre o que essa data significa e os principais desafios em suas carreiras.
Mulheres inspiradoras, que com seus exemplos de vida e através de suas trajetórias profissionais, fazem a diferença e também contribuem para um Maranhão cada vez melhor para a população.
Confira:
Quem é Irene Costa?
Maranhense, casada há 35 anos, mãe, graduada em administração de empresas com várias pós-graduações na área de gestão e direito tributário, administração municipal e contabilidade. Ingressou no fisco maranhense em 1998 e atualmente é Gestora da Célula do COTEA – Corpo Técnico para Arrecadação – Área de Acompanhamento da Receita da Secretaria da Fazenda do Estado do Maranhão.
Com 25 anos dedicados ao cargo, Irene relatou as dificuldades que enfrentou logo no início da carreira e as experiências na área.
IRENE: No ponto de vista de ser mulher, foi um desafio muito grande porque quando eu decidi estudar para o concurso, na época eu era do Banco do Estado do Maranhão, mas eu estava há dez anos em um cargo comissionado no município, cargo de gestão, e eu cheguei até ser secretária adjunta da Secretaria de Administração do município. Eu vi que aquilo era muito inseguro e eu teria que voltar para o banco depois de dez anos, numa fase de privatização. E aí foi que eu, com 35 anos, despertei em busca de algo melhor para garantir o padrão de vida da minha família e decidi estudar para concurso. Eu falei que só ia parar quando eu passasse e nesse momento Deus me mandou uma filha. Foi um pouco complicado, mas Deus me deu forças para continuar estudando e eu consegui o meu objetivo.
SINDAFTEMA: E como foi conciliar a vida familiar com o trabalho?
IRENE: Não foi fácil, inclusive o curso de formação foi outro desafio muito grande, porque tinham doze vagas para capital. Quem não passasse dentro dessas vagas iria para o interior. E aí eu cheguei até conversar com a pessoa que era a coordenadora do curso, perguntando se eu com um bebê recém-nascido, teria que ir. E ela me disse que sim, que eu tinha que ir. Então eu tive que me dedicar ao máximo no curso para ficar dentro das vagas para a capital! A sorte é que o curso de formação era pertinho de onde morava minha cunhada, então eu ia cedinho, amamentava a neném, ia para o curso de formação, no intervalo eu ia lá correndo no neném, amamentava, voltava para o curso… e assim foi durante três meses. Foi bastante puxado, mas valeu cada esforço. E assim eu vi que que nós mulheres somos capazes, serviu para mostrar que eu era forte, que a gravidez e a maternidade não impedem você de fazer o que você quer fazer, que você consegue, basta ter determinação, força de vontade.
SINDAFTEMA: Você já se sentiu em algum momento discriminada na área pelo fato de ser mulher? Como você lidou com isso?
IRENE: Então… sempre tinha aqui e ali uns comentários machistas, algumas piadas… Mas eu sempre rebati, sempre fui muito taxativa. Eu acho que não é o gênero que define a força, a inteligência, a capacidade de uma pessoa.
SINDAFTEMA: Como você vê a presença das mulheres no mercado de trabalho ao longo dos últimos anos?
IRENE: Com certeza a maioria ainda é de homens. Porque a gente vê que a mulher, às vezes não se lança no mercado de trabalho pela dificuldade de conciliar a vida familiar com o trabalho. Então ela tende a abrir mais a mão do mercado de trabalho do que o homem. Mas hoje as mulheres têm avançado muito, tanto é que algumas pesquisas mostram que as mulheres são bem mais qualificadas que os homens, com mais níveis de graduação e pós-graduação.
SINDAFTEMA: E como você enxerga a presença de mulheres em cargos de liderança na Sefaz?
IRENE: Eu acho muito importante e quero enaltecer a sensibilidade dos gestores. Nessa gestão do Secretário Marcellus eu creio isso é bem mais acentuado. Se paramos para analisar, nos cargos de célula nós somos a maioria aqui na Secretaria de Fazenda. E em termos salariais, não há diferença, porque como é uma carreira de Estado, os salários são iguais tanto para homens quanto para mulheres, o que não acontece na iniciativa privada. Aqui na Secretaria de Fazenda do Maranhão nós somos reconhecidas e muito valorizadas, nós temos a sorte de ter muitas mulheres em cargos de gestão, inclusive, algumas que já se mantém por muitos anos, mas eu tenho certeza que não é a realidade da maioria das administrações tributárias, aonde o gênero masculino prevalece em cargos de gestão. E ainda assim, se fizermos uma retrospectiva, qual foi a Secretária de Fazenda que já passou pela Sefaz do Maranhão? Até onde eu conheço, na história da Secretaria de Fazenda, nós nunca tivemos uma pessoa do sexo feminino no cargo maior da secretaria. Isso é uma realidade de muitos fiscos que eu gostaria de ver transformada pelas mulheres.
SINDAFTEMA: Qual o significado do Dia da Mulher para você e qual a importância da data para a sociedade?
IRENE: Olha, eu acho que é um momento de reflexão, é um dia para gente discutir que políticas públicas devem ser implementadas no sentido de ajudar a mulher a ter mais oportunidades no mercado de trabalho. Ela precisa ser vista com mais atenção pela sociedade e pelo próprio governo para que possam realmente lhe dar esse suporte necessário para ela ser tudo o que ela quiser. A mulher tem mostrado que pode fazer qualquer atividade, você vê hoje mulheres em todos os setores e não deixam nada a desejar. Então as mulheres precisam ser bem assistidas para que possam ser bem sucedidas. E eu espero que a sociedade continue avançando cada vez mais para que um dia não seja mais necessário a gente discutir essas diferenças.
SINDAFTEMA: Que recado que você dá para as mulheres no dia de hoje?
IRENE: Que continuem batalhando e acreditando nos seus potenciais, porque elas são tão inteligentes, são fortes, são capazes. Eu acho que não existe ninguém tão forte quanto a mulher e ao mesmo tempo tão afetiva! O que é a mulher? Ela é polivalente. Ela consegue cuidar do lar, consegue ser mãe, ser amante, ser filha, ser profissional…. Ela consegue ser multitarefas. Ela merece todos os nossos aplausos, todo o nosso reconhecimento pelo papel tão importante que ela tem.
Quem é Kércia Brandão?
Casada e mãe de duas filhas, é graduada em Serviço Social e Direito, com Pós-graduação em Gestão Pública, Direito Público e Direito Tributário e Mestrado em Ciência Jurídica. Ingressou na Sefaz/Ma em 2001, onde trabalhou por oito anos na Corregedoria. Em 2009 foi para a área de Tributação, assumindo em 2015 a gestão do setor o qual permanece até hoje como Gestora – Chefe.
Na entrevista, a auditora fiscal fala do grande desafio que é conciliar a carreira com a vida familiar.
KÉRCIA: Eu acho que um dos maiores dilemas da mulher que trabalha fora é essa conciliação. Eu entrei na Sefaz grávida do meu primeiro filho, e foi um desafio fazer essa conciliação de vida pessoal e profissional, Porque nós mulheres, temos que nos dividir no papel de mãe, esposa, tem as demandas de casa… Então você tem que ter o jogo de cintura para administrar tudo isso e fazer a gestão emocional para que nada venha a comprometer a qualidade do teu trabalho. E para quem trabalha no serviço público, essa gestão emocional precisa ser maior ainda, você tem que fazer dia-a-dia. Se você não fizer isso, você vai comprometer a qualidade do serviço que você entrega ao cidadão. Quando você é servidor público você tem um valor a entregar ao cidadão, e independentemente dos problemas que você tem no âmbito pessoal, você tem que estar ali exercendo o seu papel que é servir a população.
SINDAFTEMA: Como é ser mulher na Secretaria da Fazenda?
KÉRCIA: Eu sempre fui muito bem tratada e acolhida na Sefaz. Primeiro porque você já ingressa por meio de concurso público, então a partir daí você faz a sua história, né? E você já ingressa em igualdade com todo mundo, pois o concurso público te dá uma igualdade, te proporciona uma força, um equilíbrio entre a figura feminina e a masculina. E muitas vezes o seu colega de trabalho, apesar de ser homem, ele tende a te compreender bem mais que uma mulher, então eu sinto esse companheirismo aqui no fisco.
SINDAFTEMA: E como você vê a participação das mulheres na Secretaria da Fazenda, principalmente em cargos de liderança?
KÉRCIA: Eu acho bastante equilibrado. Tem eu, a Irene, tem a Bilkis, a Zezé Oliveira, a Graça Gonçalves, a Iolanda…. Eu vejo bem equilibrado isso aí, até porque a gente está numa meritocracia. Quando você vê mulheres em liderança aqui na Sefaz, é simplesmente mérito dessas mulheres que galgaram isso, não é por uma repartição de poder. É porque elas são qualificadas e tem competência. Mas tem uma lacuna que as mulheres faltam preencher. Se você observar, no mural da Sefaz só tem fotos de homens como Secretários. É um cargo de indicação política? Sim, mas nós temos que galgar esse espaço principalmente no exercício do nosso cargo, para que possamos ter essa visibilidade através de nossa competência. Ainda não tivemos esse momento, mas isso faz parte do progresso.
SINDAFTEMA: Qual o significado do Dia da Mulher?
KÉRCIA: É uma representação de muita luta, de muita conquista. O Dia da mulher é o símbolo de uma representatividade, da conquista da mulher nos espaços sociais. Não é um dia que nos foi presenteado, foi um dia conquistado pelas mulheres.
SINDAFTEMA: E para finalizar, que recado que você dá para as mulheres no dia de hoje?
KÉRCIA: É ser feliz consigo mesma, olhar primeiro para você. A mulher tem que procurar o seu eu interior para dar conta da tamanha responsabilidade de agregação de família e trabalho. Se ela não tiver o tempo de cuidar de si mesma, ela não dá conta! Então, mulheres, cuidem de si, da sua felicidade interna, sem depender do aval do outro. A gente fala muito empoderamento feminino. Eu penso que o principal poder é isso, você ter a capacidade de construir uma felicidade dentro de você sem depender do aval do outro.
Ascom / Sindaftema.